sexta-feira, 30 de abril de 2010

Antônia do Povo

Antônia do Povo

É lá que Antônia mora.
Entre vacas e pastos,
Ela chora.

Acorda mais cedo,
Ainda noite
Toma seu café.

Pensa um pouco mais,
Mas que bobagem!
Continua...

Segue a estrada,
O dia chega
Sem dar bom dia.

Encontra o motivo...
Vira escrava,
Ora em silêncio.

Volta de cabeça baixa.
Ignora os pesares,
Tem sobrevivido.

(-Antônia: Personagem do povo e do campo. Inspiração baseada em um documentário, mas real.)



Feliz 1º de maio para todos! Em especial para as Antônias do nosso país, trabalhadoras do campo ou da cidade.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Ilusão dos Três Patetas

(Escrito em janeiro de 2007).

Ilusão dos Três Patetas

Somos insensíveis,
Uma decepção para alguns,
Poesia para outros!

Enxergamos a vida como telespectadores,
Participamos quando queremos,
Mudamos de direção quando podemos...

Traduzimos os sonhos em palavras,
Acabamos com o encanto,
Simulamos o sentimento.

Somos atores e diretores.
Ensaiamos nossas falas,
Aplaudimos nosso próprio show!

A história é nossa,
Quando a realidade nos parece monótona,
Tomamos conta do palco.

Somos caçadores de encantos,
Criadores de alegrias e tristezas,
Loucos e santos!

Polêmicos de propósito.
Admirados pelos outros,
Infelizes ao acaso...

Sendo o universo nosso refém,
É fácil compreender,
O porquê de nossa revolta.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A Velhinha


A Velhinha
“Hoje acordei com uma sensação gozada!
Me sentindo uma velha, mas que absurdo!
Não tornarei a repetir tal palavra no auge da juventude...
Como velha que me senti comecei a refletir sobre essa sensação nova e o pior: Comecei a planejar. Planejar o dia seguinte, a outra semana, o melhor horário pra cada atividade, os gastos financeiras... - Chega velha, vai embora! Me deixa fazer o que quero, na hora que quero, aquela gostosa inconseqüência acompanhada do sorriso espontânea, sabe?
Então fui tomar um banho, até aí tudo bem, esqueci temporariamente todos aqueles planos, datas, horários agendados. Escutava apenas o barulho do chuveiro e o eco que as gotas faziam ao cair no azulejo. Relaxei 15 minutos.
Ao retornar pro meu quarto senti indícios que a Velha estava voltando a me perseguir, pedi a mim mesmo para afastá-la e não deixar aquela louca fazer parte de mim.”
Não me recordo a data exata, mas não faz tanto tempo assim, prefiro não chutar, também não saberia descrever a cena com mais detalhes, até porque desse tempo pra cá se tornou decorrente e cada vez mais clara.
Admito, fiquei amiga dessa velha. Claro que não foram uma, nem duas vezes, que esqueci dos seus conselhos, assim como, em várias ocasiões tive que contê-la, explicar a ela do eterno processo de amadurecimento que é a vida, pois vocês sabem, a velha é exigente! Se a ignoramos ela se ausenta e se vivemos somente para ouvi-la nos tornamos ela própria. Apesar de a velha estar correta em suas teorias, ao longo do tempo percebemos que mostrar estar “certo” em muitos casos, não é o mais importante. Entendi a importância da velha em minha vida, não apenar para organizar os planos mas também como uma representação da velha consciência.
Hoje lembrando da cena que citei logo no início do texto, percebo que ela já estava lá, a Velha consciência, há muito tempo “metendo o bedelho” nos meus assuntos particulares, eu que não a percebia e não queria ouvi-la também.
Não me tornei a velha, pois acredito que todo exagero tende ao engano. Mas seria alienação ignorar totalmente a consciência, mesmo querendo ser diferente, mesmo idealizando a originalidade nas ações... A velha, também denominada consciência é muito sábia, muitas vezes exige demais, quer a perfeição em tudo e pode se tornar complicado nos adaptar a ela. Ninguém disse que seria fácil...
A velhinha (sim, apelido carinhoso, depois que comecei a compreendê-la, “Velha” ficou meio agressivo) só quer nos ajudar! Mesmo tendendo ao exagero quando optamos por viver para ouvi-la, se realmente a tratarmos como uma amiga, uma velhinha sábia, ela será muito útil. E o melhor: Ela é nossa! Somos nós que a conhecemos e entendemos. Por isso mesmo, já antecipo: Não estou querendo definir a "consciência correta”, até porque ela varia tanto... Do mesmo jeito que as pessoas também.

domingo, 11 de abril de 2010

Personagem de um Conto



Personagem de um Conto

Na literatura particular, sempre desejei um caso as escondidas,
Daqueles que ninguém pode desconfiar, nem mesmo de brincadeira.
Algo surpreendentemente casual, fisicamente natural...

Encontros planejados e noturnos,
Conversas maduras, amigáveis e provocantes.
Trocas necessárias a parceria sigilosa.

Os dois vestidos ocasionalmente de preto, no inverno...
A bebida, o sorriso, o olhar de sempre, as idas e vindas ao toalete.
Nada de romance, exceção daquele beijo quente, esquecido no piscar dos olhos verdes!

Em direção ao que já vimos, pagou a conta do que não consumimos...
Meu amor faz de conta, romance das noites sós, confidente dos planos.
Foi e já vem, quando? Não quero estar a espera, que volte logo... Pro nosso conto particular.
(Escrito em 2007).