

Não sei, talvez ela não conhecesse tantas mulheres como ela, uma pessoa ímpar.Ela é perita no ser humano e suas emoções.Brinca de estar gente, pois SER é um desafio delicioso que ela aborda em suas crônicas e livros.
Como Clarice inspira sem forçar a barra! Ela era sensível, comparava suas personagens com bichos, mas pra mim, tanto suas personagens e ela própria eram “gente demais”, isso sim. Clarice traduzia a alma do ser humano em palavras, com uma facilidade assustadora. Ela não viveu apenas uma vida, viveu várias... Acho que ela chorou muito mas sorriu mais ainda! É um exemplo de mulher, uma guerreira antes mesmo de nascer, foi e ainda é um mistério para alguns. Ela não foi linear, não foi mais uma que seguiu o comportamento bovino da grande massa, se destacou em muitos aspectos (vale à pena dar uma lida na sua biografia completa também). Clarice nasceu e esteve disposta a aprender a todo momento, não imagino atitude mais digna que essa.
Observando uma foto dela, reparei no seu olhar. Não apenas o formato dos olhos, grandes e gateados. Eu pude jurar, como na própria biografia dela menciona, que olhava para um gato persa. Sempre achei os gatos um tanto misteriosos, silenciosos e mais inteligentes do que parecem. Os gatos provocam uma ligeira desconfiança. E agora comparo uma musa da literatura com um bichano... Tenho que admitir, a semelhança é escancarada. Impossível ler o olhar da Clarice. Quando ainda jovem sustentava um ar mais delicado, porém misterioso. Em todas as fotos dela, já mais velha, esse mesmo olhar sofre uma sutil transformação. Ficou mais pesado, seguro e até desafiador. Imagino que nesse retrato mais madura ela devia ter na faixa dos 50 pra cima... Clarice, enfim estava decidida de si e tomara sua forma mais original e experiente, ao menos na maior parte do tempo, acho eu.
Observo que essa mudança no olhar ocorre com todos nós. Principalmente nas mulheres. Uma vez li uma crítica numa revista sobre mulheres que exageravam nas plásticas no rosto. Deram o exemplo de uma mulher que com quase 80 anos queria ostentar o mesmo rosto dos 20. A colunista então ironiza: “Uma mulher com rosto de moça e olhar de senhora”. É verdade, o olhar não há como disfarçar. Ele muda, amadure.
No mais, fica a dica para os livros dela. Vale a pena sempre!